eu quero a elegância dos homens ao dizerem às mulheres
você tem o rosto tão jovem nem parece ser avó: eu quero
a graça dos retornos do sorriso que se abre de volta como
se revelasse que tudo atrás dos dentes se desmontou aqui
e agora: a beleza das pessoas se desmoronando pelo peito
a respiração mais calma vê-se no relaxamento dos ombros
a calma: o agradecimento dessas pequeníssimas salvações
que o corpo resolve em questão de segundos querer tanto:
são os segundos que não recusam a necessidade das ruínas
que não se esquecem nunca e muitas vezes até pedem para
ver: estruturas armadas caindo por dentro a soltar a limalha
a bambear os andaimes: em nós sempre há alguns andaimes
e tijolos mal arrematados que fazem os joelhos fraquejarem
pelo menos um bocadinho: eu quero perseguir as quedas do
mundo fazer desmoronar as ruínas das ruínas até achar seus
fundos falsos: onde as ternuras se escondem feito minhocas.
(Amanda Vital)