POEMAS DE LEONARDO ALMEIDA FILHO

Jóia

Para JM

Subjaz à pérola

a mortandade dos peixes

o cheiro do mar, sargaço e sal.

Em meu amor

teu sorriso enviesado sobrevive

como um maremoto

e o pavor abissal

de restos de sereias sob o sol.

Coral sob as águas

Sobre o pulso de uma explosão

De lava

O nascimento de uma ilha

A morte de milhões de estrelas do mar.

Psiu

Busco uma palavra

Apenas uma me basta

Para escrever silêncio.

Talvez silêncio seja

A palavra procurada

Aquela que me basta

Para ficar calado

Ou talvez calado

Seja a única que me basta

Para entender silêncio.

Armando um poema

Armar um poema requer lógica

Uma lógica secreta

Que apenas os poetas conhecem

E a articulam por amar o poema

Que o leitor vai desmontar.

Fim

Quero morrer num banco de praça

Sob enormes árvores, muita sombra

E um vento úmido envolvendo meu corpo frio.

Ser encontrado assim, cabeça pendendo

No banco da praça, num parque

no vazio de uma tarde de outono

com folhas secas voando a minha volta

como pequenos pássaros esquálidos

e o canto de cigarras amarrando pégasos

Não serei nada além do estranho corpo

olhos semi-cerrados

um leve riso nos lábios

descansando, finalmente, dessa chatice

Que é viver uma vida alheia

Uma longa vida alheia

E agora, o fim no banco de uma praça,

Como Nava, como um nada,

Livre de todos os desejos

E todas as frustrações

Descrente de todos os milagres.

 

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