Jóia
Para JM
Subjaz à pérola
a mortandade dos peixes
o cheiro do mar, sargaço e sal.
Em meu amor
teu sorriso enviesado sobrevive
como um maremoto
e o pavor abissal
de restos de sereias sob o sol.
Coral sob as águas
Sobre o pulso de uma explosão
De lava
O nascimento de uma ilha
A morte de milhões de estrelas do mar.
Psiu
Busco uma palavra
Apenas uma me basta
Para escrever silêncio.
Talvez silêncio seja
A palavra procurada
Aquela que me basta
Para ficar calado
Ou talvez calado
Seja a única que me basta
Para entender silêncio.
Armando um poema
Armar um poema requer lógica
Uma lógica secreta
Que apenas os poetas conhecem
E a articulam por amar o poema
Que o leitor vai desmontar.
Fim
Quero morrer num banco de praça
Sob enormes árvores, muita sombra
E um vento úmido envolvendo meu corpo frio.
Ser encontrado assim, cabeça pendendo
No banco da praça, num parque
no vazio de uma tarde de outono
com folhas secas voando a minha volta
como pequenos pássaros esquálidos
e o canto de cigarras amarrando pégasos
Não serei nada além do estranho corpo
olhos semi-cerrados
um leve riso nos lábios
descansando, finalmente, dessa chatice
Que é viver uma vida alheia
Uma longa vida alheia
E agora, o fim no banco de uma praça,
Como Nava, como um nada,
Livre de todos os desejos
E todas as frustrações
Descrente de todos os milagres.