há ali uma esquina que arde
mesmo apagados os postes
mesmo sem eletricidade
mesmo sem nome marcante
mesmo sem uivos das carpideiras
as ruas se cruzam como rastilhos
os caminhos violentos se emendam
há tantas cruzes no chão da cidade
anjos atormentados rondam incansáveis
as lágrimas que não podem apagar
senta-se um menino como um espectro
ou espelho embaçado, um reflexo
despedaçado de gente
fome e espasmo
onde tudo se fez sufoco e sangue
essa solidão crivada arde
e ainda entrelaça caminhos
na alma