DIA DE FINADOS
Ronaldo Cagiano
Ontem foi dia dos mortos
porém, são eles
que estão mais vivos do que nós.
No cemitério, entre alamedas de jacintos
e a esplanada de jazigos,
caminho entre sepulturas
e (re)colho em cada lápide
histórias que não conheço.
Entre fotos desbotadas pelo tempo,
latinórios e salmos insculpidos
no monolítico silêncio
e flores de plástico
enfeitando burocraticamente os túmulos,
procuro um sentido para essa
nação que inventaria tantas partidas.
Nesse pomar de bactérias
viúvos do “talvez” e do “quem sabe”
órfãos da desesperança,
depositamos em cada palmo
da morada eterna
o que ainda resta
dos lutos que colecionamos
na intrépida marcha do tempo.
São filhos, são pais,
são maridos, são esposas
são tantos amigos e desafetos
exonerados pela vida
agora transformados em duas datas
cravadas na frialdade do mármore
sem outra angústia
senão a incereteza absoluta
que rege(rá) todas
as (nossas) manhãs.
População de ausentes,
a necrópole me dá lições
do entardecer que virá
para todos nós,
alheia aos apelos
tergiversando as orações
e
nos acenos da Iniludível
no cortejo das Parcas
escondidas no olhar indesviável de Cronos
habita esse esconso futuro
sobre o qual nada sabemos.